Histórico

O Minha Vila Filmo Eu é uma iniciativa do Olho Vivo, instituição atuante na área de cinema e vídeo em Curitiba desde 2003. O Olho Vivo foi criado pelos cineastas Luciano Coelho e Marcelo Munhoz com o objetivo de utilizar o vídeo digital como ferramenta para reflexão sobre a realidade da cidade de Curitiba.

No início dos trabalhos o Olho Vivo ofereceu oficinas de cinema em que o foco era a realização de documentários sobre temas relevantes ligados à cidade, pouco vistos ou debatidos por uma visão "oficial" da mesma. Um dos documentários produzidos neste período elegeu a Vila das Torres, uma comunidade carente bem próxima à sede do Olho Vivo, como objeto do documentário que veio a se chamar "Vila das Torres" (2003, 32 min.).


Desta experiência surgiu um questionamento inevitável de fundamentação antropológica: não seria desejável que os próprios moradores daquela comunidade retratassem a si mesmos? Não seria desejável que criassem seus próprios discursos audiovisuais? O “Minha Vila Filmo Eu” nasceu da proposição de "dar voz" àquela comunidade, tão próxima geograficamente e tão separada materialmente, tanto da cidade quanto da própria sede do Olho Vivo.

Em 2005 teve origem a primeira experiência de oficina de cinema “Minha Vila Filmo Eu” oferecida a um grupo de 15 crianças de 7 a 12 anos, todas moradoras da Vila das Torres. Para concretizar esta experiência, a equipe do projeto desenvolveu uma metodologia para ensinar cinema às crianças que tinha dois objetivos: o primeiro, ensinar técnicas de manuseio de equipamento de filmagem, escrita de roteiro, edição de vídeo e linguagem cinematográfica; e o segundo, estimular o olhar das crianças e adolescentes sobre o local onde vivem, o que veio a se tornar a identidade do projeto.

O trabalho desta primeira oficina foi desenvolvido com patrocínio do Programa Petrobrás Cultural, com apoio da comunidade e parceria do Clube de Mães União Vila das Torres, ONG administrada por moradores do local. Como resultado final da experiência foi produzido um DVD com um documentário de 60 minutos sobre o processo, além de três curtas realizados pelas crianças.

Em 2006 o "Minha Vila Filmo Eu" contraiu um convênio de "Ponto de Cultura" com o Ministério da Cultura por meio do Programa "Mais Cultura", convênio que extendeu e garantiu a continuidade dos trabalhos até 2009. Nesta nova fase foi possível experimentar outras atividades além da oficina de cinema, tais como o cineclube, as oficinas de interpretação para teatro, oficina de animação e de preparação vocal para atuação e canto. Todas as atividades de oficina tiveram produções culturais como resultado, dentre elas, uma temporada de 45 apresentações em Curitiba e em outras cidades do espetáculo teatral "Caninos Brancos" (2006), ganhador do Troféu "Gralha Azul"; os curta-metragens em vídeo "Um Grito na Vila" (2007, 15 min.), "A Vida dos Limões" (2008, 3 min.), "15 Minutos de Fama" (2008, 15 min.), "No Elevador" (2009, 4 min.) e "Sorte" (2009, 3 min.), todos selecionados e exibidos em diversos festivais, com destaque para o a mostra "Kinookos" da Associação Kinofórum.


O Ano de 2009 foi muito importante para a consolidação do Núcleo de Produção do Minha Vila Filmo Eu, um grupo de jovens da própria comunidade preparados para desenvolver seus próprios projetos. Seis jovens que passaram pelas oficinas, dedicaram-se, neste novo momento, para produções próprias sob orientação dos oficineiros, agora não mais em regime de oficina, mas de produção independente.

 Em meio às atividades deste primeiro convênio de Ponto de Cultura, algumas correções de rota fizeram-se necessárias. Apesar do esforço por realizar sessões de cineclube nas escolas públicas do bairro e de realizar o cineclube regular na ONG Clube de Mães, sentiu-se a necessidade de estabelecer um contato mais íntimo com a comunidade e o seu dia-a-dia, dividindo com ela preocupações e anseios, propondo uma interação mais orgânica e atividades em parceria, o que poderia fortalecer tanto o projeto quanto a própria comunidade.  Em 2010 a coordenação do projeto procurou espaços políticos de organização da Vila das Torres, como a Associação de Moradores e a Reunião de Integração das Entidades da Vila das Torres, realizada no Centro Comunitário ao lado da Capela Nossa Senhora Aparecida, para sanar estas novas necessidades. Estes contatos vem sendo mantidos e alimentados desde então.

Em 2010, após o fim do primeiro convênio de Ponto de Cultura com o Ministério da Cultura, o Núcleo de Produção, formado no ano anterior, aprovou um projeto de realização de tele-documentário no edital da Cinemateca Brasileira, Nós na Tela, o que manteve as atividades do Minha Vila Filmo Eu durante o ano. Deste edital resultou o documentário "Vila das Torres 2014" (2010, 15 min.), uma reflexão audiovisual sobre os futuros impactos da Copa do Mundo de 2014 na comunidade, visto do ponto de vista dos moradores da Vila das Torres. Este trabalho refletiu o esforço de integração entre o Minha Vila Filmo Eu e a comunidade, na medida em que trouxe à tona, em meio ao discurso do documentário, aspectos históricos da luta desta comunidade, assim como a necessidade de reforçar aquele espírito de luta e união nos dias de hoje, momento em que há uma série de ameaças de "urbanização" da comunidade seguindo diretrizes sócio-eugenistas. O documentário teve grande repercursão, ganhando o prêmio de melhor documentário na Mostra Competitiva Nós na Tela, assim como sendo exibido em diversos festivais como o CineFoot 2010 no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Em 2011, sob novo convênio de Ponto de Cultura através da Fundação Cultural de Curitiba, ainda submetido ao Programa "Mais Cultura" do Ministério da Cultura, o Minha Vila Filmo Eu estabeleceu como estratégia a parceria com diversos espaços cultrais e educacionais na Vila das Torres, oferecendo oficinas de animação e produção de vídeo na Colégio Estadual em Tempo Integral Manoel Ribas, oficinas de animação no Colégio Estadual Guaíra e no espaço de reforço e contra-turno Projeto Esperança, além do cineclube realizado no ProAção Irmã Eunice Benato para jovens da comunidade que participam destas atividades na PUC Curitiba. Das oficinas resultaram alguns vídeos como "Uma Horta na Escola" (2011, 9 min.), que documentou o trabalho de implantação de horta comunitária no Colégio Manoel Ribas, além de outros curtas de ficção e animação.

Atualmente o Minha Vila Filmo Eu, sob a coordenação de Bruno Mancuso, se organiza para retomar as atividades no Colégio Estadual em Tempo Integral Manoel Ribas, a participação nos espaços políticos da comunidade, assim como prepara-se para o lançamento de um material didático de apoio para implantação de oficinas de cinema, animação e interpretação de atores baseados na experiência do trabalho adquirida nestes anos. O Núcleo de produção segue com a imaginação fértil, cada vez mais independente e autônomo, colaborando para que a Vila das Torres possa desenvolver sua própria voz e reinventar-se através do discurso audiovisual. Minha Vila Filmo Eu!


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